Café & Tapioca

Sobre: Prog-rock, Post-rock & A constante necessidade de performar

Prefácio

Há não muito tempo atrás, comecei a olhar com olhos mais atentos a um gênero musical que eu nunca havia dado tanta bola — por considerar bem chato —, esse gênero é o rock progressivo.

O que há de tão no rock progressivo? — você me pergunta.

Rock Progressivo

E eu te respondo: o rock progressivo é a síntese do rock, incorporando influências do jazz e da música clássica. Essa mistureba gera performances que puxam em todo o momento os limites do que se é considerado o padrão para as músicas.

O rock progressivo geralmente é caracterizado por músicas mais longas, com composições mais lentas e complexas do que o habitual do rock, usando de instrumentos incomuns para compor as sinfonias. Tudo isso gera um ar muito único para o gênero, dando de certa forma um aspecto “monumental” para tudo o que circunda esse gênero guarda chuva.

Eu acabo de cometer o equívoco de tentar colocar o rock progressivo em uma caixinha, porém isso tem como intuito tentar apresentar do que se trata o gênero para pessoas que não estão habituadas a escutar músicas do tipo.

O rock progressivo foi ter o seu primeiro grande álbum com um impacto significativo em 1969, com “King Crimson” sedimentando o gênero como conhecemos nos dias atuais. Claro que outras bandas vieram a priori, como “The Moody Blues”, porém King Crimson obteve maior sucesso comercial.

Bandas como “Pink Floyd” tem álbums marcantes de rock progressivo, como “Animals”, “The Dark Side Of The Moon” e “Atom Heart Mother”; são álbums ótimos que eu recomendo que todos ouçam pelo menos uma vez na vida.

Essa experimentação também pode ser atribuída, de certa forma, ás raízes do rock progressivo no rock psicodélico. Toda essa vontade de ir além surge justamente do uso de drogas psicodélicas, essa vontade de brincar com coisas não habituais, alterar o vigente, ir lentamente, com calma e criar uma atmosfera totalmente alucinante e imersiva é também uma característica do prog-rock.

Estabelecida a necessidade de criar uma atmosfera, é necessário tempo para introduzir o ouvinte a todos os aspectos existentes nesse “mundo” criado pelo artista. A tão criticada duração das músicas do gênero vem desse objetivo de construir um universo em volta da obra.

Pós Rock

Seguindo o mesmo rumo do prog-rock, o post-rock tem uma ideia conceitual parecida. Agora, imagine uma música de rock progressivo, em sua maior aleatoriedade de composições e instrumentos, agora pegue tudo isso, vire do avesso, e você terá o post-rock.

O post-rock joga todas as “regras” do rock no lixo, e parte para um caminho totalmente diferente, porém pegando algumas das características que definem o rock.

Novamente, cometo o erro crasso de tentar generalizar algo, com o intuito de explicar. O pós rock é em sua síntese um gênero guardachuva — assim como o post-punk —, que aglutina diversos tipos de bandas e músicas que surgiram após a explosão do rock.

Na minha opinião, o álbum que exemplifica com maior êxito do que se trata o pós rock é de “Godspeed You! Black Emperor”, ou para os íntimos “GYBE”.

Meu relacionamento com ambos

Para mim, além de tudo o que circunda o pós rock, o principal que me chama atenção no gênero é o “crescendo”, essa preparação exagerada para produzir um “refrão” muito agitado e eufórico — pequeno, se comparado com a duração total da música.

Toda essa “enrolação” me torna a viver de forma mais lenta e calma, me faz apreciar cada instante da composição, fechar os olhos e simplesmente sentir da minha forma.

Todo esse pré-conceito que eu tinha sobre ambos os gêneros vinha muito da minha incapacidade de apreciar músicas “longas” e muito distintas do que eu era habituado a escutar — músicas com uma composição não complexa, com refrões chicletes e sinfonias contagiantes —. Tudo se resumia a quantidade de estímulo que eu conseguia captar escutando a alguma música, nada além.

Hoje em dia eu enxergo essa relação como algo bem repugnante. Uma necessidade de performar ao máximo enquanto escutava música, sem construir nenhum tipo de relação, intimidade ou conhecimento por aquele na qual eu escutava — tudo se resumia a quanto eu conseguia “parecer” alguém letrado musicalmente, porém ao mesmo tempo sendo extremamente raso em tudo.

Não quero insinuar que até quando se escuta música é necessário estar “consciente” — por mais que eu defenda essa tese —, eu acredito que quando surge uma necessidade puramente estética atrelada ao gosto musical, essa que é moldada com o intuito de se parecer o mais “alternativo” ou “descolado” possível, se perde aos poucos o gosto por escutar música, pois não necessariamente eu estaria escutando o que eu realmente gosto.

A constante performance

Essa necessidade por performance, como conhecemos hoje, é um fruto da cultura de internet.

meme foda

Essa necessidade de se parecer diferente do que as “massas” — mesmo gostando daquilo que metade da população também gosta —, surge da necessidade de auto-afirmação da autenticidade do indivíduo em questão.

Eu estaria sendo extremamente contraditório, caso disesse que eu não faço isso. Eu faço isso! Porém eu tenho consciência de que faço isso, e não passo o tempo todo afirmando o quão “diferente” eu sou, eu apenas sou o que eu sou — parar de me colocar em caixinhas foi a melhor coisa que eu passei a fazer nos últimos tempos.

Conclusão

Eu não sei exatamente em qual ponto eu queria chegar escrevendo isso, eu só queria escrever sobre o quanto eu amo os subgêneros de rock, e sobre a forma na qual eles me moldaram como a pessoa que eu sou no dia de hoje.

#Música